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Som e Fúria

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André Silva

Babu Santana como Tim Maia. Foto: Páprica Fotografia

“O Tim Maia é praticamente uma legenda: você coloca Tim Maia numa festa, todo mundo levanta, todo mundo conhece, todo mundo gosta”. Podia ser a fala de algum entrevistado na rua, mas a frase veio da boca de Mauro Lima, diretor de Tim Maia – Não Há Nada Igual. O subtítulo do longa-metragem talvez não seja um exagero, já que é difícil encontrar uma figura musical brasileira moderna com a dimensão mítica de Tim Maia, que reúne algo entre o imaginário desregrado roqueiro de Raul Seixas e o som e a postura de malandro-do-soul de Jorge Ben, transitando entre bailões suburbanos e festas de bacana.

O filme sobre o músico tijucano emerge 16 anos depois de sua morte, uma grande produção em qualidade e em duração, com 140 minutos. O roteiro foi fundamentado essencialmente na biografia Valeu Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, publicada em 2007 pelo jornalista Nelson Motta, mas outras fontes também foram usadas, como a biografia banida de Paulo César Araújo, Roberto Carlos em Detalhes, e o livro Até Parece Que Foi Um Sonho – Meus Trinta Anos de Amizade e Trabalho com Tim Maia, composto pelas memórias do cantor Fábio. Fábio, interpretado por Cauã Reymond, chegou a tocar e morar com Maia e é o narrador da história – o que ajuda a unir décadas de episódios interessantes, mas lhe confere a profundidade de um personagem-apêndice.

A cinebiografia, que o diretor define como ficção, narra ascensão e queda do cantor, e seu “ressurgimento” na virada dos anos 1970 para os 1980, na onda discoteca. Devido às mudanças de aparência de Tim, desde o adolescente gorducho e imberbe até a versão turrona obesa em paletó de lamê, foram escalados dois atores para encarnar o cantor: Babu Santana (Copa de Elite, Estômago) mimetiza a forma física e os trejeitos do artista a partir do primeiro disco (1970), enquanto Robson Nunes (Família Vende Tudo, Carandiru) recria um jovem Tim Maia, com um currículo de entregador de marmitas, intercambista-problema nos Estados Unidos e satélite da Jovem Guarda.

A ambição dos realizadores do filme é grande. O projeto veio da parceria entre Mauro Lima, a Globo Filmes e a produtora RT Features, que primeiro despontou em 2006, com a adaptação cinematográfica do romance “O Cheiro do Ralo”, de Lourenço Mutarelli. Desde então, a empresa vem se destacando pela compra e adaptação de direitos autorais de obras literárias. “É o maior filme e talvez o filme que nasce com o maior potencial comercial. A gente tá falando de 500 a 600 cópias. Então, é um filme que nasce grande. É o maior lançamento na minha vida, nunca fiz nada tão grandioso”, conta Rodrigo Teixeira, dono da RT.

Uma produção de grande porte, para grande público, e sem ser uma biografia chapa branca fazem de Tim Maia – Não Há Nada Igual uma grata surpresa. A exploração do período pré-estrelato, menos conhecido, é o grande acerto do filme: Tim Maia pode ser popular até entre as gerações mais novas e pode ter coletânea editada até mesmo nos Estados Unidos, mas desvendar como se formou o astro tão genial e tão louco é um grande atrativo para qualquer espectador. Seus anos de formação são ricamente explorados e bastante romanceados, provavelmente por conta da documentação esparsa do período. Isso dá liberdade a Robson Nunes para afirmar sua habilidade de interpretar um Tim Maia temperamental e malandro, mas ainda jovem e pobre demais para se impor. A experiência do ator depois do filme sintetiza o que o filme tem de melhor a oferecer: “acho que depois que você escuta e interpreta um cara que fez o que quis na vida é impossível não repensar na tua própria vida, e se permitir viver mais também”.


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